Monday, October 29, 2007

AOS ELEITOS



NALDOVELHO

O Homem não quer provas
e ainda que elas existam, ele as negará!
Ao homem só importa o poder que o consome,
a mentira que ele nega,
a riqueza que ele esconde,
adquirida nem sei onde,
ao custo da dor e da fome
daqueles que se permitem escravizar.

O Homem não quer Deus,
pelo menos não aquEle que o criou,
e que elegeu a vida como sagrada
ao dizer que o próximo deve ser amado,
sem mencionar raça, credo, língua,
ou ainda qualquer diferença que possa se notar.
E por isto o Homem recriou o divino
de acordo com suas verdades, suas vontades.

O Homem não deseja o amanhã,
pois se dispõe a destruir os Eleitos,
ainda que seja destruído também.
E para isto se alimenta do ódio,
e da dor de um mundo que agoniza
e assim cego pela intolerância,
refém de sua loucura, agoniza também!

E assim o Pai vem separando o joio do trigo,
reconstruindo os caminhos sagrados
onde a verdade foi semeada, faz tempo...
Quem colheu e provou da semente,
sabe quem são os eleitos que eu digo,
pois construirão a nova crença no Eterno,
e dois serão os únicos mandamentos
a nos ensinar sobre o amor e a compreensão!

Thursday, October 25, 2007

ACEITANDO SUA OFERTA



NALDOVELHO

Que seja!
Pois não se trata do que é fácil,
nem tão pouco de desfazer o mal feito,
difícil de ser desfeito.
Como também não vale tentar refazer
o que por desamor foi destruído,
já que o que eu tanto preciso,
é de que alguém saiba curar as feridas
adquiridas nos desencontros e desencantos,
próprio de quem muito amou,
mas não conseguiu se encontrar.

Se você sabe de feitiços, mantras,
ou de desfazer quebrantos;
saiba também que são dos seus cuidados,
o que na realidade eu mais careço,
pois a pele ainda é fina, fácil de sangrar.

Quem sabe com duas ou três pitadas de ternura,
uma dose reforçada de carinho,
tudo isto bem macerado
numa xícara e meia de compreensão?

Quem sabe se a beleza que habita a alma
e que no refrigério do amor acalma,
possa ressurgir bem lá do fundo
e assim se mostrar como uma nova possibilidade
ou história que possa me fazer não mais amargo
e eu possa amar outra vez.

Wednesday, October 24, 2007

ÀS VEZES PENSO



NALDOVELHO
Às vezes penso em ti como um beija-flor
e aí te percebo leoa de presas dispostas
a devorar-me em postas, pois só eu sei
como tu gostas de se servir de mim.
Às vezes penso em ti como uma princesa
e aí te percebo tal qual camponesa
a alimentar os colonos, pois eu sei que
tu gostas de ser servida assim.
Às vezes penso em ti como um sonho,
e aí te percebo delírio, armadilha,
linha embaraçada, perigo, pois sei que
no fundo gostas de ser vista assim.
Às vezes penso em mim como um tolo
que vive de alinhavar versos,
ritos confessos, indecentemente insanos,
pelo desejo de te ter em minha cama,
por uma noite que seja, e ao acordar,
não mais te encontrar ao meu lado,
pois só eu sei como gostas de se servir assim.

Friday, October 12, 2007

EU NÃO CONSIGO AMANHECER



NALDOVELHO

Trago em meus guardados
o gosto amargo das noites mal dormidas
inquietude que eu tenho, faz tempo,
ansiedade que arranha por dentro
e eu nem sei explicar o porquê!
Trago a fome compulsiva dos loucos,
e não há nada que possa matar minha sede,
teimosia de um tolo que vive
a percorrer caminhos estranhos,
trilhas estreitas, nubladas,
e ainda que se faça a luz,
por cegueira, eu não consigo Te ver.
Trago um coração angustiado,
ainda ontem, sufocado,
pela fumaça de nem sei quantos cigarros,
vez por outra, quando respiro engasgo,
coisas que eu tenho que reaprender.
Trago palavras molhadas, confessas,
às vezes choradas, confusas, ardidas,
às vezes suadas, salgadas, cansadas,
em outras, ejaculadas, de qualquer jeito, na pressa
de deixar marcas, registros, um grito!
E quase sempre com cheiro de sangue,
feridas expostas, destroços, poemas,
por mais que o sol nasça todos os dias,
aqui dentro eu não consigo amanhecer.