Friday, June 29, 2007

MULHER ENLUARADA



NALDOVELHO


Procura-se uma mulher sardenta,

mais ou menos um metro e sessenta,

cabelos claros, desgrenhados,

olhos verdes e abusados.

mais sedutora que aparenta,

lábios grossos e encharcados,

doce veneno que atormenta.


Procura-se uma mulher derradeira,

com garras afiadas, guerreira,

acostumada a tecer feitiços

e não há como acabar com isto!

Diz que é a musa dos meus sonhos

e dos meus versos mais tristonhos.


Procura-se uma mulher enluarada,

pele branca e orvalhada,

envolta em fios de ternura,

desses que levam qualquer homem a loucura.

Quem souber não se arrisque, tenha juízo!

Seu ataque é rápido e preciso...

Nem queiram saber do que ela é capaz!


Thursday, June 21, 2007

ESTRANHO LABIRINTO



NALDOVELHO

Vocês percebem o que eu digo?
Vou tentar ser mais claro!

Fios entrelaçados, tecidos,
alguns deles amarrotados,
outros, guardados, amarelecidos...
Há aqueles, pelo uso, puídos,
se tentarem consertar; cerzidos.
Tramas, dramas, coisas do nosso umbigo!

Ainda não fui claro?
Vou tentar de novo!
Caminhos, trilhas, atalhos,
lugares ermos, distantes,
ruas que parecem desertas,
esquinas, escolhas incertas,
becos sem saída, enganos!
Começar tudo outra vez.

Janelas, têm dias, fechadas,
em outros, escancaradas;
chaves, nem sei de quê portas,
mas não importa sabê-las,
pois sempre serei um estranho,
que quando tenta entrar na conversa
alguém logo pergunta:
o que você quer de nós?

Fios entrelaçados, destinos,
escolhas equivocadas, atalhos,
ruas de uma cidade deserta.
Ando por aqui já faz um tempo,
vivo tentando escrever poemas,
que digam ao coração das pessoas
sobre o labirinto em que vivemos, estranhos...
Melhor ter a mão um novelo de lã,
marcar caminhos trilhados,
não repetir os enganos,
para que possamos sair daqui.

Algo do que lhes disse é familiar?
Não?
Estranho...
Muito estranho!

VEM




NALDOVELHO E JOANA PONS

Vem!
Vem dormir e sonhar os sonhos meus,
acordar em brancos lençóis,
amanhecer poema de amor
e em meus braços apaziguar sua dor.

Vem!
Faz do meu corpo a sua morada,
dos meus desejos o alimento preciso
e dos meus olhos o refrigério da alma,
pois serei sua amada, infinitamente sua!

Vem!
E traz o carinho das mãos delicadas
a explorar caminhos, dobras, passagens,
partes sedentas e ainda assim molhadas,
e deixa em minha pele suas marcas tatuadas.

Vem!
E faz meu coração bater acelerado,
traz também o seu cheiro e o seu olhar abusado,
a saborear o amor que dedico pleno,
e faz de mim, algo que seja só seu.

POEMA DE AMOR NÃO ESCRITO



NALDOVELHO

Linhas traçadas
coexistências embaraçadas,
palavras entrelaçadas,
quarta gaveta, lado esquerdo do peito.
Poema de amor proscrito
entre o poeta e a meretriz.
Um bolero arrastado,
a compor tristemente o cenário,
uma garrafa de vinho tinto,
outra de Martine Bianco,
ambas, pra baixo da metade.
Marcas de batom no corpo,
na camisa e no copo.
Cinco horas da manhã!
O garçom sinaliza nervoso,
já é madrugada, faz frio lá fora,
peço a conta e percebo em teus olhos
um até breve, até quando?
Agora, já passam das seis!
Manhã nublada de maio,
um gole de café requentado,
não dá pra esquecer o cigarro,
nem o poema de amor proscrito,
banido antes mesmo
de ter sido escrito.
Melhor ir pra casa e dormir.

Friday, June 01, 2007

ESTIAGEM ESTRANHA DA ALMA



NALDOVELHO

Há dias em que a poesia,
como água, escorre entre os dedos
e em silêncio recusa os enredos,
gasturas que a vida nos traz.

Dias de calmaria,
nascidos na indiferença dos tolos,
alimentados pela inutilidade das horas,
plenos de nem sei bem o porquê?

Há dias em que o coração
desgastado pela dança do tempo,
sussurra frases vazias
e já nem quer saber até quando.

Dias de recolhimento e clausura,
por achar que depois daquela porta
as pessoas anestesiadas não percebem
a dor que lhes fustiga a alma.

Há dias que acontecem nublados,
ausência de chuva ou de vento,
onde até o sol vai-se embora
antes do entardecer.

Dias e noites vazias
e o coração do poeta nem se importa,
já não quer saber até quando,
ou se amanhã o sol vai nascer.

Há dias... melhor esquecê-los!
Dias que, na verdade, não contam!
Estiagem estranha de um louco
que de repente recusa o sonho.

Há dias em que a poesia,
como água, inunda o poeta,
que mesmo contra sua vontade,
sobrevive... só não sei até quando,
só não sei bem o porquê!