NALDOVELHO
Palavras que agonizam
sobre uma folha de papel amassada.
A palavra FUTURO mal respira.
A palavra PERDA se arrasta
e em desespero busca a palavra SAUDADE
que abraçada à palavra NOSTALGIA
numa dobra escura do amasso,
derrama a dor pelo que já não sente.
A palavra LÁGRIMA perdeu significados,
estiagem premeditada do tempo
que transformou em pedra a mão do poeta.
A palavra ES-PE-RAN-ÇA, triturada,
e sua seiva a criar corredeiras,
trilhas aleatórias que vão dar em lugar algum.
A palavra NATUREZA, sufocada pela fumaça,
sangra acinzentado e gosmento,
já não consegue fazer brotar o verso
e exala seu odor de morte.
A palavra AMOR, pelo desuso,
ou pelo mau uso, pulverizada!
Poeira espalhada, perdeu força,
já não consegue mais nada.
Em cima da mesa,
ao lado da folha de papel amassada,
um livro aberto, ri debochado.
Nele, palavras, outras, festejam a matança.
As palavras: GUERRA, ÓDIO, RANCOR e VIOLÊNCIA
riem debochadamente.
A palavra PROGRESSO se vê como definitiva,
acha que é um sucesso,
e não há como voltar atrás.
A palavra PODER, quer fazer crer quê:
assim o é, humildemente!
O título do livro?
O HOMEM
Ah a palavra HOMEM!
Não conheço nenhuma outra
de significados tão incoerentes.