NALDOVELHO
Quantas coisas tortas, loucas,
quantas pontas frouxas, soltas,
quantos barcos a deriva,
quantos becos sem saída,
quantas trilhas proibidas.
Nos atalhos desta vida
tens o dedo na ferida,
alucinam-me os teus ais.
Afiadas farpas nas entranhas,
se tu choras, eu me assanho,
quantas lágrimas, quanta manha,
quantas noites de insônia,
quantos sonhos desconexos
pela beira do abismo,
tens a perda dos sentidos,
desesperam-me os teus ais.
Versos cheios de vergonha,
quantos rios, quantos cios,
heresia brota insana,
corredeiras tão estranhas,
vê se esconde esta peçonha,
vê se abre esta janela,
vê se deixa de besteira,
tira o espinho da ferida,
dilaceram-me os teus ais!
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