Wednesday, August 22, 2007

O POUCO QUE EU SEI


NALDOVELHO

Sei dos caminhos que nos levam à loucura
e das trilhas, abismos, armadilhas.
Sei do sangue coagulado sobre a ferida
e da dor na cicatriz quando mexida.
Sei do inverno no silêncio do meu quarto,
e das lágrimas, quase sempre não disfarço!
Sei das ruas, vielas, esquinas desertas,
insônia insistente, madrugadas incertas.
Sei do amigo que se recusa ao abraço,
chuva ácida poluindo o riacho.
Sei dos esboços, dos rascunhos, dos sonhos,
projetos engavetados, lado esquerdo, tristonhos.
Sei do livro de contos inacabado,
faz tempo não pego, tenho medo do estrago!
Sei que o tempo tece teias estranhas,
corpo cansado, sou presa indefesa da aranha!
Sei que amanhã vou acordar setembro,
se me lembro: primavera, flores, temperatura amena!
Sei que no final deste caminho, existe um outro.
Sei da pedra, do limo, das raízes e da solidão.

Wednesday, August 01, 2007

QUANDO O RIO DERRAMA



NALDO

Há dias em que o rio derrama
e inunda todo o quarto.
Meu corpo encharcado
busca os teus braços,
e reclama!
Diz que a solidão é coisa ardida,
abre na carne profundas feridas...
Sente saudades!
De um tempo de águas tranqüilas,
quando a vida era apenas um riacho.

O QUE EU DEFENDO



NALDOVELHO

Defendo mãos dadas ao nascer do dia,
abraço apertado por conta de chegadas,
brisa quente e macia ao cair da tarde,
sorriso de criança acariciando o coração.

Noites tranqüilas, cantigas que sobrevivam,
amores aconchegados, amantes descarados,
com muito beijo na boca e de preferência sem roupa!
Lua cheia e abusada a instigar o poeta
e versos sem rima a desentranhar emoções.

Defendo mesa farta, ternura nos olhos
e o carinho do amigo promovido a irmão.
Janelas escancaradas, estradas tranqüilas,
respeito às fronteiras: com sua licença Abdul,
seja bem vindo Jacob, dá cá um abraço meu irmão!
Um copo de vinho e um pedaço de pão.

Defendo a verdade na palavra empenhada,
a compreensão como moeda de troca,
a caridade como solução derradeira:
uma vara, o anzol, e a isca,
e na beira do rio te ensinei a pescar.

Defendo a família consagrada e unida,
a palavra de Deus se bem compreendida,
o branco, o negro, o amarelo, o mestiço,
sêmen, suor, sangue novo e sagrado,
o mistério da Sua Carne reside no amor.

Defendo a palavra e seus significados,
e as diferentes escolhas, ainda que equivocadas,
os erros assumidos, a chance de repará-los,
o aprendizado, por certo, na multiplicidade de vidas,
Muitas são as moradas, e a Misericórdia é um fato,
pois somos todos os filhos da Sua imensa Luz.