Wednesday, November 28, 2007

O POUCO QUE NOS RESTOU



NALDOVELHO

Pétalas pálidas, descoradas, descontentes,
folhas desnutridas, desmaiadas, sem vida.
Espinhos ressecados, ainda ferem o inocente.
Um jardim tão mal cuidado,
o jardineiro se fez ausente;
ervas daninhas dominam o ambiente...
O amor que tu me tinhas, hoje é morto, se acabou.
Casa assobradada, janelas e portas trancadas,
um velho balanço, enferrujado, range os dentes.
Nada que eu faça ou tente, resgata o meu passado,
memórias reticentes; foi o pouco que restou.
Velho casarão, abandonado no passado,
rua arborizada que o tempo preservou.
Nas esquinas conversa miúda, sem eira nem beira,
já não somos os mesmos, muito pouco nos restou

QUANDO MORRE UM POETA



NALDO VELHO

Tributo aos poetas Nilton Alves e Marcio Carvalho, falecidos recentemente, e a poeta Marici Bross falecida no dia 24/11/2007

Um vento varreu entranhas,
espalhou pela casa guardados,
palavras, versos, poemas,
imagens estranhas, loucura,
cartas, retratos, recortes,
folhas de papel manuscritas
de um livro não terminado.

Espalhou pétalas de rosa,
é bem verdade, também espinhos,
folhas secas, lembranças de outonos,
e um frasco inteiro de perfume,
espatifado no chão da sala
impregnada pela essência dos sonhos
que um ser poeta sonhou.

O vento que varreu entranhas
quebrou vidraças, espelhos
e um porta-retrato com a sua imagem.
Derrubou prateleiras e livros,
espalhou pelo chão meus CD.s
e minha coleção de pedras e de corujas.

O vento que varreu entranhas,
abriu portas, escancarou janelas,
arrebentou samambaia chorona,
destruiu renda portuguesa,
derrubou gaiola de pássaro...

Canário da terra aproveitou e voou!

Sunday, November 25, 2007

POEMA QUE NÃO PEDIU PRA NASCER



NALDOVELHO

Madrugada nublada
de uma noite mal dormida,
na realidade não dormida,
e a minha poesia, presa entre os dedos.

Aos poucos, ainda meio tonto,
meio troncho, meio qualquer coisa,
tipo barro, quase tijolo,
meio poeta, meio escombros.

O poema a que me obrigo,
tem um quê de áspero, corrosivo.
As lágrimas brotam doídas,
palavras duras, versos em carne viva.

Agora, seis e dezenove!
O sol nasceu e nem pediu licença,
Manhã cinzenta de novembro,
nuvens insolentes pelo ar.

Seis e trinta e cinco!
Um café bem quente e, eu percebo:
as rosas no vaso murcharam.
Ao fundo, Nana Caymmi, lembra você.

Poema que não pediu pra nascer!

Sunday, November 18, 2007

VICIADO EM VOCÊ



NALDOVELHO

Viciado em colher madrugadas,
em veneno de lua cheia e exibida,
em cantigas que questionem a vida,
em beira de mar em noite de maré cheia,
em gotas de orvalho injetadas nas veias.

Viciado em colher poesia,
por ruas, ruelas, becos estranhos,
quartos sombrios, camas vadias,
por colos, perdi a conta de quantos,
só lembro das vezes em que o meu corpo sangrou.

Viciado em colher nostalgia,
em beber da mais pura aguardente,
em chorinhos viscerais e profanos,
em boleros que sejam cubanos,
não canso de dizer que sou assim!

Viciado em dizer que te amo!
e que ainda hoje depois de tantos anos,
ainda escrevo poemas pra você!
Ainda sofro desta maldita insônia,
saudade doída que não me deixa esquecer.