Dizem do poeta: ser ele um mensageiro da emoção. No que me diz respeito, o poeta é um observador privilegiado do seu tempo. Digo privilegiado por conta da sensibilidade e do poder de construir com contundência textos que possam transmitir não só sua ótica e entendimento, mas também, a visão coletiva de um tempo, levando as pessoas à reflexão.
Hoje por exemplo, eu escutei uma senhora de 58 anos de idade, no auge de sua revolta, afirmar: é preciso criar grupos de extermínio que façam justiça, ainda que à margem da lei, e eliminem de uma vez por todas esses animais que vivem a cometer tamanhas atrocidades.
Nenhum espanto! Eu, a princípio sou a favor da pena de morte. E olhem, que a fala em questão, era de uma senhora da maior dignidade, advogada e professora aposentada e pelo visto desesperançada com a justiça que é praticada neste país pelas nossas instituições.
Normalmente não costumo tocar nesses assuntos, até para não ser mal interpretado, já que tenho posturas, digamos assim, politicamente incorretas e totalmente heterodoxas. Lembro quê, quando dos escândalos ocorridos com o “Mensalão” e antes da eleição para Presidência da República, acabei por perder o convívio de alguns amigos, por minhas idéias, já que estavam querendo, e muitos ainda querem, realizar um linchamento em praça pública de todos os políticos do PT e mais do então presidente do nosso País, e eu, ao não concordar e dizer abertamente quê: em primeiro lugar deveríamos seguir os trâmites legais, dando a oportunidade de defesa aos envolvidos, e depois, que deveríamos aproveitar a oportunidade e rediscutir todo o cenário político brasileiro, incluindo aí, o PMDB, o PSDB e demais partidos que existem no Brasil. Dizia, então, que a corrupção aqui nesta terra é endêmica e vai do mais simples trabalhador até o mais alto magistrado; que os políticos que por aqui existem, foram eleitos por nós e vieram, sem exceção, do seio da nossa sociedade. Lembro até que numa pesquisa do IBOPE, quando ao serem perguntados sobre o comportamento daqueles que nos representam, aproximadamente 65 % dos entrevistados disseram que fariam o mesmo. Dizia eu, que em governos anteriores já aconteciam as barbaridades que naquele momento presenciáramos e que apenas, aqueles eram mais competentes em acobertá-las.
A mesma preocupação me assola nos dias atuais. Não sei se meus dizeres serão bem aceitos, já que o racional, sempre em mim, fala mais alto, e as pessoas, de uma maneira geral, só se posicionam quando obrigadas pelo emocional.
É preciso, urgentemente, rediscutir o nosso sistema judiciário, incluindo aí a nossa polícia, mal aparelhada, mal remunerada, e principalmente, completamente despreparada no sentido psicológico e até vocacional para o exercício de suas funções. É preciso repercutir cada vez mais a ineficiência de nosso judiciário, a morosidade dos processos por conta de um intrincado código processual e até a competência e honestidade de nossos juízes. Sei que, a grande maioria desses profissionais é da mais alta dignidade, mas é bastante claro que existem aqueles...
Outra coisa que precisa ser discutida com profundidade é o nosso código penal e o sistema existente para aplicá-lo, pois não recupera ninguém e só faz aumentar, ou aprofundar a animalidade existente. Neste ponto eu faço uma pergunta a cada um de vocês: qual a função maior do sistema? Punir e excluir da sociedade aqueles que demonstrem não merecer viver no gozo de seus direitos ou levá-los ao arrependimento pelos crimes cometidos e ressocializá-los?
Se homens condenados à reclusão por crimes bárbaros, como este perpetrado contra uma criança de seis anos, em no máximo cinco anos podem estar soltos nas ruas a cometer outros crimes, onde está a justiça? Isto sem contar que um bom advogado poderia ainda alegar que os envolvidos não tiveram a intenção de matar, apenas de roubar, e que a morte desta criança não passou de um acidente absurdo, tese esta que se aceita reduziria a gravidade do delito e conseqüentemente a pena. Já imaginaram? E mais: menores de idade envolvidos em tais delitos, têm tratamento diferenciado e bem mais cedo retornam às ruas para novos crimes. Não é este um belo cenário?
Sei não meus amigos! Lembrando a senhora favorável a criação de grupos de extermínio: quem de nós teria a coragem de empunhar uma arma e perpetrar a margem da lei a tão desejada justiça? Quem de nós tiraria a vida de um nosso semelhante, ainda que ele o merecesse? Quem de nós exige dos poderes instituídos a ética e a seriedade necessárias no trato à coisa pública? Quem de nós participa ativamente da política, porém de uma forma seria?
Somos omissos, no dia a dia, e só gritamos, demonstrando nossa revolta quando a dor bate à nossa porta ou à porta de um nosso igual. Já disse mais de uma vez que existe um doloroso processo de exclusão social aqui em nosso país, e que lamentavelmente consideramos que os direitos são iguais para os iguais, e esta é a triste verdade, sem hipocrisia! Algum de nós se preocupa com a educação e a saúde dos menos favorecidos a ponto de intervirmos e atuarmos na ausência do Estado? Quantos de nós agimos de forma a cobrar de nossos representantes atitudes mais solidárias e produtivas com relação ao nosso povo, e na ausência destas, através do nosso voto, tratamos de puni-los numa próxima eleição? Canso de ver gente que mereceria estar presa, sendo reeleita! Quantos de nós nos mexemos e cobramos de toda a sociedade, não só ao governo, um maior investimento nos áreas de educação e cultura? Chego a pensar que o mal do brasileiro é que ele pensa que vive numa eterna festa, tipo carnaval, sambalada, trio elétrico e outras coisas mais e quando uma bala perdida põe fim a uma vida, só aí nos pomos a chorar.
Hoje, a desgraça esta no ar! A morte de gente inocente, criança ainda, a dor da perda aliada a nossa sensação de impotência e a certeza da impunidade, faz-nos desesperançados. Acho que é hora de mudar!
De minha parte, apesar de não escrever muito a respeito, procuro alterar, de forma prática e dentro do meu pequeno universo de ação este estado de coisas tão nocivas que abalam nossas estruturas. Que tal fazermos uma corrente do bem?
Enquanto isto, sou favorável à pena de morte para os irrecuperáveis, sou favorável à sentenças mais pesadas aos criminosos, sou favorável à exclusão destes, até por tempo indeterminado, dependendo do crime praticado. Como sou favorável a uma postura mais saudável e menos discriminatória com relação aos menos favorecidos, àqueles que não têm os direitos iguais, e isto sem assistencialismos populistas e com atitudes sérias para o crescimento desta Nação.
Finalizando: li na manhã de hoje, que o Presidente do STF, Ministra Hellen Gracie, os representantes da CNBB, o Sr. Presidente da República e o Governador do Estado do Rio de Janeiro, emitindo suas opiniões quanto à alterações em nosso código penal e no Estatuto da criança. É importante que tenhamos a exata consciência da importância destes pensamentos, enquanto cidadãos que são, com direitos a serem respeitados, mas apenas isto! Vivemos numa democracia representativa onde o que deveria valer seria o pensamento de uma nação, que hoje se encontra refém da violência e também ao descaso de nossos representantes, o que significaria dizer: VALE O QUE PENSA O POVO SOBERANO DESTE PAÍS.