NALDOVELHO
Dragões pachorrentos
passeiam impunemente
pelo meu quarto,
preguiçosos que estão,
não vomitam mais chamas,
apenas ocupam espaço
e deixam um cheiro desagradável
de cinzas, molhadas de constrangimento,
por tamanho arrependimento,
de terem queimado quase toda a casa.
E ainda assim, eu sobrevivi.
Serpentes ameaçadoras
sibilam alegremente
e enroscadas em meu corpo
ainda têm muito veneno,
insidiosa peçonha que eu tenho,
sempre pronta a inocular mais alguém.
Um cheiro forte de ervas
toma conta do ambiente,
enquanto cães ferozes
impedem a fuga que tento,
aprisionam-me em meu quarto,
embaraçado ao meu porvir.
Um anjo conivente
a tudo assiste e sorri.
Lá fora uma lua sombria
acinzenta a madrugada.
Melhor fumar um cigarro,
tomar um conhaque e depois um Valium.
Quem sabe o pesadelo vai embora?
Rezar uma Ave Maria,
confessar meus pecados.
Quem sabe, cometer mais alguns?
Quem sabe fechar a porta do armário?
Lacrar meus guardados?
Queria poder escrever um poema,
exorcizar meus demônios.
Queria confessar que te amo,
só que depois de tanto anos,
ainda não sei como.
Queria poder morrer de distância,
de ardências, de loucura.
Uma música doída
toma conta do ambiente,
castiga os meus ouvidos,
mais um blues!
Logo, logo amanhece,
quem sabe tudo desapareça
e eu consiga dormir?
No comments:
Post a Comment