Tuesday, February 20, 2007

E SE FOSSE UM DOS SEUS?



NALDOVELHO

Mistura de cores, odores, ruídos,
minha cidade transpira horrores.
Cães enlouquecidos passeiam impunemente
e nas esquinas um sorriso amarelo
não consegue esconder o desconforto,
por ruas e praças desertas,
janelas e portas fechadas
e um absurdo de lamentos:
mais um ousou e caiu!

Ousou amar seu caminho,
fazer filhos, construir uma casa,
cultivar flores sem espinhos;
cantar cantigas de roda,
andar pelas ruas sem pressa,
namorar madrugadas de insônia,
parar no sinal amarelo...
Perdeu, perdeu, perdeu!

Um corpo jogado nas ruas,
fio interrompido, loucura,
criança ainda, seis anos!
E a baba do tinhoso
espumando pra todo o lado.

Minha cidade hoje chora,
clama por justiça e se desespera,
põe rosas brancas nas janelas,
e aqueles que devem não querem,
se escondem em castelos e ignoram
a dor que consome as entranhas
e as marcas deixadas no asfalto.
Não há nada de novo nas horas!
Nada que aconteça os comove.
E se fosse um dos seus?

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